terça-feira, 25 de junho de 2013

Ao longo dessas manifestações, procurei não emitir nenhuma opinião pessoal, até porque não conseguia fazer uma análise um pouco mais crítica do momento. Acredito que o fato de viver essas manifestações intensamente, estando no olho do furacão, às vezes impede formar uma análise do todo.

Porém ontem, tive a oportunidade de participar de um debate sobre o tema, e fiz minhas primeiras conclusões sobre a questão. Nesse sentido, vou publicar alguns dos meus apontamentos em tópicos, com o intuito de registrar esse momento, como tenho feito desde 2010 em um despretensioso blog http://eduardosoaresdelara.blogspot.com.br/ .  

Da natureza das manifestações globais
·      Desde 2007 (início da crise financeira), até o presente momento de 2013, a presença de uma massa popular nas ruas das principais cidades do mundo é inegável. Os fatores são diversos, porém é forte o conteúdo crítico em torno da crise da representação e da profunda crise financeira.
·     O que podemos ver no restante do mundo, é uma pauta que pede muito além de melhorias sociais: porém basicamente concentra-se em garantir direitos e democracia real (Europa em crise), contra o sistema financeiro e por democracia real (EUA em crise), e uma ocidentalização da política no oriente (Mais democracia e o fim de totalitarismos, porém com grande cunho anti-imperialista).
·   São manifestações, muitas vezes de cunho emancipatório e anticapitalista, de crítica ao sistema hegemônico e que também levanta importantes questionamentos ambientais.
·    Também não podemos esquecer que na América Latina o povo está há muito tempo nas ruas. Nesse sentindo, eu identifico na AL um promissor laboratório de novas formas de governo, que vem trabalhando pautas nacionais profundas, caracterizadas por um promissor embate ideológico. Nosso continente é nesse exato momento um grandioso laboratório político.

 Da natureza das manifestações nacionais
·         A internet criou uma identificação global. Criou aquilo que o sociólogo brasileiro Octavio Ianni chamava de sociedade civil global.
·         Podemos dizer, em comparação com a Europa e os EUA, que enquanto eles lutam por garantir direitos, aqui queremos a radical ampliação de direitos que ainda não conquistamos.
·         Porém é inegável o conteúdo vazio de alguns de nossas pautas. Não digo ilegítimas, digo vazias no sentido porque em grande parte são moralistas. Acho que nesse momento, todo debate em torno de um estado ideal, suprime a necessidade de fazer uma profunda reflexão acerca do estado real.
·         Existe uma trama nesse debate moralista. Querem fazer um profundo debate sobre a questão da corrupção e sua institucionalização no sistema político, ou querem debater uma questão específica, como por exemplo, o mensalão? Se for isso é preciso ser sincero e reconhecer que o julgamento do Mensalão envolve uma série de falhas, duramente criticadas por juristas respeitados no Brasil e no exterior. Esse caso específico foi um exemplo de falta de imparcialidade do judiciário brasileiro, com direito a sms dos ministros do supremo comentando sobre o caso. O nosso judiciário é uma peça fraca! Ele inocenta o Collor alegando que as provas foram adquiridas pela polícia de maneira ilegal, e condena outros por falta de provas. Reforma do judiciário, já!
·         Vivemos em uma república, constituída por três poderes. Porém ficou claro o esforço de focar e direcionar todas as criticas na presidenta Dilma.
·         Isso ficou evidente com a reação da mídia e sua falta de legitimidade com o povo, que nas manifestações gritava palavras de ordem a todas grandes emissoras. O povo começou a entender que a mídia é um quarto poder da república, como já afirmava o escritor Lima Barreto.
·         Acredito que nossas manifestações foram infladas por uma geração de jovens sem muita clareza história do desenvolvimento do Brasil. Diferente de outras gerações que foram as ruas para defender criação da Petrobras, pedir as reformas de base, derrubar a ditadura, e garantir o processo democrático. Porém, devemos achar positivas todas essas manifestações, foram ótimas!!!! Agora temos um movimento político em disputa, restando seguir em frente para o segundo ciclo das manifestações.
3)      Considerações sobre o ataque conservador
·         Foi inegável, e ao mesmo tempo assustador a presença de movimentos a favor da ditadura, atacando aos partidos políticos e os princípios democráticos.
·         Foi inegável que todo o lixo preconceituoso da sociedade brasileira também saiu às ruas, contra as políticas afirmativas e todos os avanços sociais que o governo brasileiro promoveu na tentativa de diminuir as desigualdades regionais e sociais.
·         Em relação ao medo de um golpe, esse sentimento não pode ser considerado paranoia, tendo em vista o que a América Latina viu recentemente. Nesse caso basta apenas citar o caso de Honduras e do Paraguai.
4)      A preparação para o segundo ciclo de manifestações.
·         Acredito que agora haverá uma dissolução do movimento espontâneo de massas para o surgimento de um novo ciclo de manifestações. Agora elas serão guiadas por pautas mais específicas e certamente capitalizadas por movimentos sociais.

·         Com o pronunciamento da presidenta Dilma, foi colocada uma nova agenda política no país. Cabe agora a nossa sensibilidade e protagonismo em atuar intensamente para vencer essa agenda e realizar as profundas reformas democráticas que o país e nossa geração exigem.

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