segunda-feira, 14 de março de 2011

Conclusões...

Durante o final de semana, realizei uma retrospectiva da minha trajetória acadêmica. O motivo? Encontro-me em fase de concluir o curso. O sentimento? De tranqüilidade, sem arrependimento, em paz com o movimento estudantil que tanto mutilou e sacrificou a busca sistemática pelo conhecimento científico.

Falar sobre as ciências sociais significa falar de um amor. Foi através dela que obtive uma percepção desse nosso mundo, desse nosso tempo. É um amor por tudo o que é humano, seja feio ou belo.

O que têm marcado todos esses anos de graduação foi à superação de inúmeras dificuldades, a começar pela manipulação de um número considerável de material teórico dos mais eruditos e sofisticados. A dificuldade de acessar esses materiais, seja pelo custo dos livros, a barreira do idioma ou a capacidade de interpretar muitas vezes me fizeram sentir o medo de fracassar.

Ao enfrentar essas últimas etapas da graduação faço com a paixão do menino iniciante. Faço pensando nas gerações de jovens que devido às injustas estruturas sociais, permanecem com sonhos incompletos, às vezes sem sonhos. 

Espero ser um sociólogo engajado com as mesmas causas que condicionaram minha vida até o presente. São causas que não permitem ter um sono tranqüilo, estas me fazem sofrer em silêncio. A sociologia, equilibrada com a militância política, desde cedo foi o escape para poder aliviar essa dor. 

As ciências sociais a todo instante ampliaram essa dor, porém deram uma oportunidade de contribuir com o grande processo de transformação econômica e social por qual passa meu país. 

Minha vida será recompensadora e encontrarei um pouco de paz ministrando minhas aulas, sendo uma referência ética, como muito dos intelectuais e professores que deparei em minha vida. Homens de integridade dos quais admirei cada lição.

Durante os próximos meses estarei elaborando meu pré-projeto e o projeto propriamente dito. Serão muitas reflexões, citações, inspirações e agradecimentos. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

A atualidade da luta das mulheres

"Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos." Marie Curie – cientista polonesa foi à primeira mulher a ser laureada com o Prêmio Nobel de Física no ano de 1903.

Por
Simone Fraga e 
Eduardo Soares de Lara


Este ano a celebração dos 101 anos do dia das Mulheres, coincidiu com as festividades do carnaval em todo Brasil. O fato não diminuiu a importância e o significado da data, que continua registrando inúmeras homenagens ao longo do mês. Seja por diversas mesas redondas, grupos de trabalhos, projeção de filmes, exposições ou a criativa presença de mulheres lutadoras no carnaval, o importante é atingir com criatividade os distintos contextos de mulheres, estudantes, trabalhadoras, aposentadas, donas de casa, etc.

A data proposta pela lutadora feminista, a alemã Clara Zetkin, em uma época marcada pela marginalização, violência e prostituição da mulher, não impediu que muito desse passado opressor e medieval, permanecesse intrínseco. 

O longo percurso para que as mulheres obtivessem direitos que permitissem sua ativa inserção na vida econômica, política, social e cultural, continua carecendo de ampliação e garantias concretas por parte do Estado brasileiro. A grande luta encontra-se na transformação das recentes políticas públicas em políticas de Estado, além de uma nova percepção acerca do debate de gênero, que continua suscitado uma intensa disputa de idéias entre os campos progressistas e conservadores da sociedade.

Infelizmente, ainda encontramos a predominância de valores machistas nas relações entre homens e mulheres, presentes em contextos amplos da sociedade ou nos espaços mais delineados.

Verificamos constantemente que os índices de violência contra as mulheres encontram-se elevados, somado ao fato da crescente relutância de juízes e delegados de polícia em aplicar a Lei Maria da Penha, emergindo uma explicita tentativa de manter viva a desigualdade entre homens e mulheres.

Muito além das violências descritas em lei, uma série de outras formas de “violências simbólicas” perpetua nos padrões de comportamento. Essas, por si só, geram os visíveis desequilíbrios, que desembocam na supervalorização do ponto de vista masculino, estrutura que consolida uma sociedade machista e sexista.

Recentes investigações do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) destacam que do ponto de vista econômico, “a pobreza no Brasil tem sexo”. Existe uma predominância das mulheres nos estratos mais pobres da sociedade brasileira, sendo que mais da metade das famílias com filhos chefiadas por mulheres (53%) são pobres, ao passo apenas 23,7% das famílias com filhos chefiadas por homens estão nessa condição. A razão da pobreza feminina encontra-se na divisão do trabalho, onde estas foram historicamente incumbidas das tarefas domiciliares, reservando ao mercado de trabalho os postos de baixa remuneração.

O rendimento médio das mulheres esta constituído na média de R$ 786, sendo este valor 67,1% do rendimento médios dos homens diagnosticado em R$1.105, mesmo as mulheres mantendo um nível de escolaridade superior a dos homens. 

É fato que os últimos 20 anos houve significativa diminuição do abismo entre os rendimentos médios entre homens e mulheres. No ano de 1992, o rendimento médio das mulheres era menos de 60% e em 2001 apresentou elevação para 65%, o que apesar da evolução é possível ainda notar, que na maioria das atividades econômicas, as mulheres ganham menos do que os homens.    

A questão essencial é que o Brasil vive um momento conjuntural instigante. Pela primeira vez uma mulher foi eleita ao principal posto de comando político. Fato que recupera a longa história de lutas pela igualdade de direitos. Também o Brasil vive um próspero desenvolvimento social e econômico, resultante dos últimos dez anos, alcançando o posto de 7ª economia do mundo. 

Esse novo Brasil não nos exime da necessidade de continuarmos mobilizados e atuando. Em um esforço de garantir junto ao novo governo os compromissos assumidos com as mulheres e o povo brasileiro.

Em especial as mulheres, que sempre estiveram presentes nas grandes batalhas populares, em todos os tempos e lugares. As que ousaram a todo instante sonhar e construir um mundo diferente, verdadeiramente justo e igualitário. O presente continua requisitando para que todas sejam protagonistas do esforço de construir um projeto de nação justo, caracterizado por amplas oportunidades para toda a população.

*Simone Fraga. Diretora Executiva do Instituto Contato. Formada em Administração, com ênfase em gestão estratégica das organizações e gestão financeira pelas Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
*Eduardo Soares de Lara. Diretor Executivo do Instituto Contato e graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Artigo publicado originalmente no sítio do Instituto Contato - http://www.institutocontato.org.br