sábado, 31 de dezembro de 2011

um 2012 de muita indignação...

É interessante a formação dessa unidade mundial entorno do novo ano que se aproxima.

Ao primeiro dia do ano, demos o nome de “dia internacional da paz”. Uma onda de humanidade toma conta dos mais de 7 bilhões de indivíduos por todos os cantos do planeta.

As manifestações são legítimas, vislumbrando prosperidade, sorte, uma vida digna e rica, seja espiritualmente ou materialmente.

Ao que tudo indica, o novo surge acompanhado de um pouco do mesmo: agressões imperialistas, capital financeiro predominando nas relações de poder como nunca na história da humanidade, o meio ambiente dando sinais de esgotamento, pobreza e miséria extrema concentradas na África, nas grandes cidades, etc.

Em 2011 muitos foram os que perceberam o quanto é injustificável que no século 21, com tanta tecnologia e conhecimento, a vida de milhares de pessoas continuasse ainda desumana e precária, que a riqueza que possibilitaria o bem estar social permanece concentrada, nas mãos de menos de 1% da população que detém o poder real.

Certamente foram indagações que permitiram tornar perceptível às insuficiências do “regime democrático”.

Contrários a essa estrutura estabelecida algumas mulheres e homens ousaram se levantar em uma onda de indignação percorreu mundo árabe, criou raízes na Europa em crise, e chegou à América.

Os meus sinceros votos de ano novo são para todos os #indignados que lutam arduamente ao longo dos anos por uma democracia real.  

“O primeiro passo para a mudança é não aceitar ou se resignar diante de um estado de coisas que está longe de ser natural”. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A história de uma vaca...

Decidi publicar um pequeno trecho do livro A VIAGEM DO ELEFANTE, de autoria do saudoso José Saramago, com o intuito de lembrar o seu 89º aniversário
.
Aos desacostumados em ler os escritos de Saramago, fica o aviso de que pode ser uma estranha leitura, por dois motivos. Primeiro decorre de o texto manter a ortografia vigente em Portugal, e em segundo lugar por ser estruturado em uma narrativa que relembra um bom e velho contador de histórias.

A história a seguir, foi o mais próximo que consegui na tentativa de registrar a passagem dos meus 25 anos de idade. Espero que ao final da mesma, possa olhar o passado e com todo vigor, ainda experimentar os sentimentos descritos a seguir.
  
“A história de uma vaca, As vacas têm história, Tornou o comandante a perguntar sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nuns montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanso, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no liminar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais”.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que acontece na Universidade de São Paulo?

Por Eduardo Soares de Lara*
“Eu sou a favor de todas as reivindicações deles para coibir a ação truculenta da polícia. Meu filho não fuma maconha, não bebe, o único vício dele é tentar mudar o mundo!” (Mãe de um estudante da USP)

A todo instante, por meio da televisão e dos grandes jornais, chega uma nova informação sobre a efervescência dos estudantes na USP. Informações cuja fonte é a tradicional imprensa brasileira constituída por seus monopólios de comunicação. O conteúdo divulgado é pobre de detalhes e análises coerentes acerca do que ocorre nas dependências da importante Universidade brasileira. Parece-me, em comparação com os manifestantes, que a imprensa encontra-se igualmente perdida.

Humildemente, gostaria de expor algumas reflexões, que dialogam com o atual processo de globalização do capitalismo.  Acredito que o sociólogo Octavio Ianni, de alguma forma sintetiza a idéia central da minha reflexão ao afirmar que: “Desse novo ciclo, tem emergido uma série de controvérsias que abalam profundamente os quadros sociais e mentais de referência de indivíduos e coletividades, em todo o mundo. Está em curso uma ruptura histórica, com sérias implicações teóricas e práticas. Refletir sobre essa ruptura é constatar dilemas e descobrir horizontes que se colocam para indivíduos e coletividades, classes e grupos sociais, nações e nacionalidades, formas de vida e trabalho, realizações e ilusões, em todo mundo.” (1)

Sobre o direito de manifestação

Compreendemos prontamente que o direito de manifestar-se é uma garantia constitucional em nosso país, tanto no sentido individual como coletivamente. Essa noção, que invoca as liberdades dos indivíduos, é conteúdo de inúmeros tratados filosóficos e políticos. Referenciais na maioria das vezes “incontestáveis” da democracia moderna. Não importa qual o conteúdo a ser publicizado, o mesmo sempre encontra respaldo na suposta liberdade de expressão. Porém é obvio que qualquer manifestação pública fica sujeito de reações oriundas do julgamento público.

O Mundo de hoje encontra-se borbulhando de anseios. Vide o que acompanhamos recentemente no Chile, onde os estudantes reivindicam ensino superior público; no Oriente Médio com a “Primavera Árabe”; nos países da Europa, emblematicamente recordo as manifestações na Espanha por democracia real, que agrupou um acampamento entorno da “Praça do Sol”; e nos Estados Unidos com o movimento “Occupy Wal Street”. Esses são exemplos de contestações legítimas de um mundo preocupado com seu futuro coletivo.

As contestações, cujos propósitos visam à emancipação dos indivíduos, é o que efetivamente permite à conquista da liberdade, das transformações sociais e políticas progressistas desejada pela sociedade. São características de um luta que se encontra atualíssima e a mesma esta na ordem do dia, porque corresponde a uma necessidade objetiva da evolução da sociedade.

Nesse contexto, é válido o entendimento de que o tão sonhado “... processo revolucionário não será construído abruptamente. É preciso um atento exame da história e da realidade contemporânea, que mostra que o caminho revolucionário comporta muitas etapas e a construção da nova sociedade será obra ainda de muitas gerações”. (2)

Em especial no movimento estudantil, do qual tive a oportunidade de atuar durante um bom tempo da minha vida, sempre convivi com os radicalismos, em sua maioria, movidos pela cíclica inquietação juvenil. É difícil seu entendimento estando de fora, porém uma coisa é certa, são angustias reprimidas que clamam por sua liberação, e manifestam-se a todo instante artisticamente e politicamente.

Polícia X Universidade

A presença de forças coercitivas no ambiente universitário a todo instante gera atritos e indisposições.

Por dois motivos. O primeiro porque essas forças, no caso da USP a Polícia Militar, são formadas ideologicamente por meio de doutrinas, que condicionam um entendimento de que toda e qualquer contestação fere a estabilidade do Estado, e as mesmas passam a justificar uma necessidade de agir e resguardar a legalidade, combatendo os agitadores políticos. A segunda característica diz respeito à relação conflituosa, cultivada entre estudantes e militares. Basta relembrar do recente período de ditadura militar e os sistemáticos ataques a democracia e as liberdades. Uma história que derramou o sangue de inúmeros estudantes. É preciso a todo instante evidenciar o quanto continua sendo árduo o processo de redemocratização, num país cujas feridas encontra-se ainda abertas e mal resolvidas.

Em síntese, quero dizer que o espaço universitário é composto por seus ritos, símbolos, tradições, e história, que de alguma forma fogem da engessada legalidade, da moral hipócrita e da compreensão das forças de segurança formadas e modernizadas para reprimir. 

A USP X Autonomia

É bem conhecida a história da Universidade de São Paulo. Conceituada internacionalmente, a mesma deve suas origens a um estreito vínculo com a elite paulista.

Verdade que se tornou berço de eminentes homens públicos e intelectuais, porém sempre esteve a favor de um projeto político.

Ainda hoje ela é uma universidade ligada ao governo de São Paulo, financeiramente, administrativamente e politicamente.

“Ainda durante a gestão de José Serra, Grandino Rodas foi escolhido reitor da USP através de um decreto publicado no dia 13 de novembro de 2009. Seu nome era o segundo colocado numa lista de três indicações. Ou seja, Roda não foi eleito pela comunidade acadêmica. A última vez que o governador do Estado impôs um reitor à Universidade – utilizando-se de um dispositivo legal criado no período militar e que está presente na legislação do Estado de São Paulo até hoje – foi durante a gestão do governador biônico Paulo Maluf, que indicou Miguel Reale para assumir a reitoria da USP ente 1969 e 1973”. (3)

Seria de estranhar, se a Universidade de São Paulo não refletisse a opinião, o entendimento e a prática do governo paulista de Geraldo Alckmin frente aos movimentos sociais. Foi assim com na greve dos próprios policiais, dos professores, entre outras. É um governo que não viabiliza o diálogo com os movimentos sociais tradicionais, que nunca suportou qualquer sinal de organização política – seja estudantil, sindical ou partidária – muito menos teria uma atitude diferente com movimentos emergentes, portadores de dinâmicas ainda pouco compreensivas até o presente momento.

O resultado?

Sinto, particularmente, um triste pesar com tudo que o ocorreu e a forma que o tema vem sendo tratado pelo senso comum e a imprensa nacional.

Permaneço veemente contrário a legalização da maconha e qualquer outro ilícito. Porém compartilho do entendimento crítico que a descriminalização do usuário, traria implicações importantes no âmbito da segurança pública, da saúde e justiça.

A todo instante quis refletir acerca de um fato concreto. O fato de que 3 mil estudantes da USP, mobilizados em assembléia, deflagraram uma greve que expressa o sentimento dos estudantes depois da entrada da Tropa de Choque. 3 mil estudantes, que a todo instante recebe o apoio de trabalhadores, intelectuais, outras universidades e setores da sociedade.

Não sei se por conta da minha história no movimento estudantil, mesmo apontando críticas e divergências que sempre tive com determinados setores que compõe o mesmo, mantenho aqui meu incondicional apoio ao movimento rebelde na USP.

Involuntariamente, momentos como esses, servem para trazer a tona uma série de anseios da juventude brasileira.

Ou juntos mudamos o mundo, ou a juventude vai mudar ele sozinho!

*Eduardo Soares de Lara é graduando em ciências sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC


Observação:

A histórica assembléia deliberou os seguintes encaminhamentos:
- Greve imediata
-Eixos;
1 – Retirada de todos os processos movidos contra estudantes por motivos políticos!
2 – Fora PM! Pelo fim do convênio da USP com a Secretaria de Segurança Pública.
3 – Liberdade aos presos e nenhuma punição administrativa ou criminal!
4 – Foras Rodas!
5 – Outro projeto de segurança na USP! Que a reitoria se responsabilize por:
a)      Plano de iluminação no campus.
b)      Política preventiva de segurança.
c)       Abertura do campus à população para que tenhamos maior circulação de pessoas;
d)      Abertura de concurso público para outra guarda universitária, que tenha treinamento para prevenção dos problemas de segurança e com efetivo feminino para a segurança da mulher;
e)      Mais circulares;
f)       Circular até o Metrô Butantã;


Referências:
1 – Octavio Ianni. Capitalismo, Violência e Terrorismo. Editora Civilização Brasileira, 2004.
2 – José Reinaldo Carvalho. 7 de novembro, aniversário da Revolução Socialista. <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=168065&id_secao=9>
3 – Ana Paula Salviatti. A face autoritária do reitor da USP <http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2011/11/07/a-face-autoritaria-do-reitor-da-usp/>


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Desertar... nunca!

Quase que esqueço por completo desse pequeno espaço de idéias, mantido unicamente dos sonhos e sentimentos da minha juventude.

O princípio desse espaço foi somar forças com a rede de anônimos que compartilham suas experiências, idéias e sentimentos.

Tal espaço, só faz sentido, se puder expor o verdadeiro sentimento aprisionado no meu peito.

Posso encontrar inúmeros motivos para justificar essa ausência. Porém hoje, não quero justificar nada publicamente. Apenas quero relembrar uma frase de Sartre que merece ocupar as paredes brancas do meu quarto, e quem sabe assim, a cada despertar, alimentar a coragem adormecida dentro de mim.    

“Desertar é negar um mundo e uma época – lutar nas trincheiras é aceitar esta época, suportar seu tempo. O desertor faz apelo ao futuro; por minha parte, quero fazer apelo unicamente ao presente.”

Além disso, quero compartilhar a linda voz portuguesa de Cuca Roseta, interpretando a canção “Quem és tu afinal?”

A canção não saiu da minha cabeça durante os últimos dois dias...

Seus olhos Branco e Cal
Rascunho ou Pintura?
Quem és tu? Afinal?
Destino..? ventura..
De mãos em vão nudez
mm..Deslizar nos dedos
Enleio em timidez
mm..Desposar segredos
Seus olhos verde e cal
Desenho.Tortura!
Quem és tu? Afinal?
Receios! ..mm Ternura..
Baixinho a cada noite
De novo e devagar
És meu ao abraçar-te
Tão meu!...Sonhar!!



domingo, 3 de julho de 2011

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos, 2009)

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos, 2009)

Indicado ao o Oscar de melhor produção estrangeira, o filme conta a história de um ex-funcionário público que resolver escrever um livro quando se aposenta. Benjamín Espósito (Ricardo Darín) escolhe pra seu livro o caso criminal que mais marcou a sua carreira no Tribunal Penas de Buenos Aires.

Para ordenar as idéias, ele revê o homicídio que investigou em 1974 e termina repensando as decisões feitas no passado. Nessa busca vai tentar descobrir se consegue encerrar esse caso e alguns capítulos da sua vida.

Espósito terá sempre ao lado a tentação da sua impecável superior Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil, atriz revelação do filme) e a companhia do fiel escudeiro Pablo Sandoval (Guillermo Francella, que garante uma participação dramática de peso, algo fora do comum na sua carreira de comediante). Os acontecimentos, assim como os outros personagens que povoarão a história, são apresentados aos poucos, como se saíssem de um conta-gotas controlado com extrema precisão pelo diretor Juan José Campanella.

Apesar de poder ser enquadrado como filme policial, afinal o elemento central à trama é um crime, há poucos tiros e nenhuma explosão. A tradicional adrenalina das perseguições de carro que se acostumou em ver nos filmes hollywoodianos é muito bem substituída por uma bela seqüência de imagens aéreas de um estádio de futebol lotado em pleno fervor do jogo. Ou seja, tudo redimensionado a escalas mais humanas e realistas.
As idas, vindas e voltas de cortes temporais fazem os paralelos com o passado dos envolvidos e também com a história argentina. Os meandros da justiça e a época da última ditadura no país são tratados de forma econômica e sem demagogia. Mas, por outro lado, às vezes, fica difícil de entender tanta "argentinidade". São várias as referências feitas a ruas, lugares, personalidades e contexto histórico. Um dado importante para acompanhar melhor alguns desenlaces do filme: o crime se passa na época do governo de Isabel Perón e das ações constantes da "Triple A" (Aliança Anticomunista Argentina), grupo de repressão do Estado que recrutou gente da pior espécie, entre oficiais de polícia exonerados por delitos, civis com fichas criminais e matadores de aluguel.
Baseada no livro La pregunta de sus ojos (A pergunta dos seus olhos), de Eduardo Sacheri, a produção argentina e espanhola é um desses poucos casos em que uma obra é superada pela adaptação. Apesar de não ser desconhecido dos leitores argentinos, o romance de Sacheri (que trabalhou com Campanella no roteiro, acompanhou as filmagens e palpitou em certos momentos) com certeza nunca chegou a 18 semanas consecutivas no topo de nenhum ranking, como fez o filme nas bilheterias argentinas. Na sua sexta semana de exibição, O Segredo dos Seus Olhos já era o filme nacional de maior arrecadação na Argentina e hoje é considerado o mais visto dos últimos 35 anos no país.

O orçamento curto (2 milhões de euros) foi bem distribuído entre as sete semanas de filmagens, os atores de primeira e os cenários simples, mas impactantes - como o edifício central dos tribunais e as cafeterias da capital argentina, que não precisam de retoques, além do já mencionado estádio de futebol do time Huracán. A bela fotografia também merece destaque e o enquadramento só peca pela repetição muito constante dos desfoques de primeiro plano. Parece que a verba só não deu conta de um quesito: a maquiagem. Ao longo dos 25 anos que se passam na história, as marcas do tempo ficam meio forçadas.
O desenrolar dos acontecimentos cria um suspense envolvente e o desdobramento dos personagens contribui com boas surpresas, compondo alguns dos segredos que hipnotiza os olhos de quem vê. Em suma, a indicação ao Oscar é merecida. Agora resta saber como acaba a tal história contada por Darín.






AMOR E ÓDIO (La Rafle)

O final de semestre é sempre um momento delicado, que exige uma dedicação sobrenatural na tentativa de entregar nos prazos estabelecidos, alguns trabalhos e avaliações.

Mesmo assim encontrei um pouco de tempo para o cinema. Segue minhas considerações para com três títulos.

AMOR E ÓDIO (La Rafle)

Com o ator Jean Reno, o filme fala sobre o período de ocupação da França por Hitler, e consequentemente sobre a perseguição de judeus em Paris. Os atores são ofuscados por uma série de crianças que protagonizam “pequeninos judeus”, passando por uma das experiências mais deploráveis que a humanidade já conseguiu produzir, a perseguição nazista.

Ambientando no ano de 1942, Joseph com apenas 11 anos, durante uma manhã de junho, deve ir para a escola com uma estrela amarela presa em seu peito. Entre a bondade e o desprezo, a comunidade judaica vivem numa Paris ocupada.

Na manhã de 16 de Julho de 1942, 13.000 Judeus são presos e espremidos dentro do Velódromo D´Hiver em condições desumanas, até serem deslocados para o campo de concentração de Beaune-la-Rolande, localizado na cidade francesa ao sul de Paris, Vichy.

O fato de ser um filme, não impossibilita o fato de que cada personagem desse filme de fato existiu. Foram mulheres, homens e crianças que lutaram por sua liberdade. O filme é aterrorizador, quando ao final nos damos conta que tudo isso aconteceu, existiu e foi encarado com naturalidade por muitos.

Vale apena ver e ter como registro de um dos momentos mais perversos que a humanidade conseguiu criar. Ou melhor... Continua recriando, em outras proporções, porém continua.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Palocci. Ele é a verdadeira crise?

Ontem fui pego de surpresa, nos corredores da Universidade, onde um grupo de colegas debatia questões relacionadas à influência da grande mídia e as recentes acusações que envolvem o Ministro Chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Longe de querer defender o Ministro Palocci, seu passado e presente, assim como querer justificar alguma ação imoral. Tenho a necessidade de refletir alguns aspectos.

Divulgado pela Folha de S. Paulo, as notícias acusam o ministro de ter seu patrimônio acrescido 20 vezes em quatro anos. Mesmo não fazendo nenhuma acusação direta, a mesma é cheia de insinuações. Seguindo o melhor estilo golpista da imprensa brasileira, outros meios de comunicação somaram-se ao coro, como se todas as reportagens tivessem sido preparadas pelo mesmo editor.

Terça-feira, 17 de maio
Folha: “Comissão de Ética diz que Palocci não relatou bens”
Estadão: “Dilma blinda Palocci e oposição reage com cautela”
Quarta-feira, 18 de maio
Folha: “Ex-ministro vale muito no mercado, diz Palocci”
Estadão: “Cinco ministros de Dilma têm empresas de consultoria”
Quinta-feira, 19 de maio
Folha: “Ação do Planalto barra convocação de Palocci”
Estadão: “Negócio feito por empresa de Palocci é suspeito, diz Coaf”
Sexta-feira, 20 de maio
Folha: “Empresa de Palocci faturou R$ 20 mi no ano da eleição”
Estadão: “Palocci trabalhou para 20 empresas”

Jornais e oposição ao governo aproveitaram-se do caso para criar todo tipo de instabilidade e constrangimento à presidenta Dilma. Criou-se o estopim para que lideranças da oposição passassem a pôr Palocci no “olho do furação”, começando assim mais uma guerra política.

DEM e PPS ingressaram com pedidos de abertura de inquérito na Procuradoria-Geral da República, questionando o faturamento da empresa em seu período de funcionamento, assim como a lista de seus clientes.

Parlamentares do PSDB mobilizaram forças para recolher assinaturas para uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).

Em diferentes comissões das duas casas do Congresso Nacional, oposicionistas buscaram convocar o Ministro para prestar informações sobre a atuação da consultoria da qual é sócio.

*

Segue trecho de uma reflexão publicada pelo professor Emir Sader, em seu blog:

“As acusações a Palocci coincidiram com essa votação e contribuíram para configurar uma situação de crise política para o governo. Ao deter o cargo mais importante no ministério, centralizando a coordenação política e outras funções anexas, as acusações - no mínimo – afetam duramente a capacidade de coordenação do governo e colocam à prova sua forma de reagir a denúncias – mais além dos objetivos desestabilizadores da mídia opositora – que revelam, pelo menos, comportamentos problemáticos por parte de um ministro importante no governo. Ainda que não se prove ilegalidades, restam sempre questionamentos sobre a ética publica de assessorias enquanto se detêm mandato parlamentar, cargo importante em comissão da Câmara e a eventualidade de informações privilegiadas e influências em setores do governo. A não revelação dos clientes, com a alegação de segredos profissionais, agrava a situação, que no seu conjunto paralisa a capacidade de ação politica do governo, justamente quando ele acumula temas graves na sua agenda – Código Florestal, emissão de MPs, entre outros. Porém, mais grave do que tudo isso, reflete que atitude o governo toma diante de situações que envolvem ética pública e podem definir critérios para todo o mandato.

“A falta de consciência dos problemas acumulados e dos elementos de fraqueza do governo, que permitiram sua irrupção, ou a falta de consciência, com visões redutivas, que não atingem o cerne das questões, é o pior conselheiro. Qualquer atitude que represente esconder a cabeça na areia, como o camelo, é permitir que as dificuldades atuais se perpetuem e os recuos que o governo está dando, permaneçam no tempo, configurando uma correlação de forças desfavorável para governo e o campo popular.”

"O governo Dilma não sairá o mesmo da crise. Ou sairá mais fraco ou mais fortalecido. Como ocorreu em 2005, que foi o marco decisivo no governo Lula. A atitude que o governo tomar diante da crise atual – seja no Código, seja em relação a Palocci – vai definir um estilo de governo, uma forma de encarar os interesses públicos e a forma de enfrentar problemas da ordem da ética pública, que o marcará por todo o mandato.”

“Nunca como agora crise significa oportunidade. Será perdida ou ganha: está nas mãos do governo a decisão.

*

Na mesma semana que os fatos relacionados a Palocci continuam repercutindo, denúncias envolvendo o “líder máximo da oposição ao governo Dilma”, senador do PSDB Aécio Neves, aquele que foi pego “borracho” andando de carro por ai. Aécio é acusado por deputados estaduais de Minas Gerais de esconder bens para não pagar Imposto de Renda. Salário de R$ 10 mil e patrimônio declarado de R$ 600 mil não explicam viagens ao exterior, festas com celebridades, jantares em restaurantes caros e uso de carrões.

A grande questão: é preciso deixar claro o que pode ou não ser feito pelo homem público. Essa é a verdadeira crise. O Brasil, com o governo Lula, deixou de ser um país das oportunidades. Precisamos mobilizar as forças conseqüentes da sociedade para disputar a construção de um Estado eficiente ao mesmo tempo culturalmente mais ético com as grandes questões públicas. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dica de Filme - Ao Sul da Fronteira

Ao Sul da Fronteira, filme lançado em 2010 causou certa expectativa no Brasil, até porque vivíamos a campanha eleitoral que culminou na eleição da primeira mulher presidenta do país.

Acredito que este filme deve ser enquadrado na categoria de essencial, na tentativa de elucidar as alternativas de esquerda, presente em nosso continente. 

Dirigido por Oliver Stone, a película não deixa de ser um documentário que retrata sua viagem por sete países da América Latina, em uma tentativa de compreender o fenômeno que os levou a ter governos de esquerda na primeira década do século XXI.

Através de conversas com Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Raul Castro (Cuba), é analisado o modo como a mídia acompanha cada governo e o maneira como lidam com os Estados Unidos e órgãos mundiais como o FMI.

Oliver Stone (Nova Iorque, 15 de setembro de 1946), que também serviu na guerra do Vietnã e ganhou a “Estrela de Bronze de Honra ao Mérito” ganhou dois Oscar de melhor diretor com os filmes Platoon e Born on the Fourth of July (Nascido em quatro de julho).

Entre outros de seus filmes está o recém lançado “Wall Street: Money Never Sleeps” (Wall Street – O dinheiro nunca dorme. 

O filme carrega uma leve semelhança com o documentário à “Revolução não será televisionada” e os filmes de autoria do diretor Michel Moore, mesmo assim é esclarecedor, inteligente e original. 





“Nos tienen miedo porque no tenemos miedo”

Vídeo com imagens feitas da praça Catalunya, que acompanha a canção de Liliana Felipe “Nos tienen miedo porque no tenemos miedo”, realizado por Cubadebate:





mais um registro de efervescência... de coragem... e luta social!




Dica de Filme - Band of Brothers

Como expressei anteriormente esse ano venho dedicando atenção para cinema.

Uma sugestão que gostaria de deixar registrado nesse blog é a série Band of Brothers, uma minissérie de televisão que conta a história da Easy Company, integrante da 101ª Divisão Aerotransportada do exército americano, na Segunda Guerra Mundial. Baseado no livro de mesmo título, da autoria de Stephen E. Ambrose, a série narra a participação da Easy Company na invasão da Normandia, além das Operações Market Garden e da Batalha do Bulge.

Sob a ótica dos combatentes, a produção narra a campanha do regimento de para-quedistas americanos, desde sua preparação em Toccoa, Estado da Geórgia nos Estados Unidos, até a captura do Ninho da Águia, fortaleza que Hitler mantinha nos Alpes, na localidade de Berchtesgaden.

Todos os eventos retratados na série são baseados em pesquisas e entrevistas gravadas com os veteranos da guerra e o interessante é que os mesmos constantemente aparecem antes do começo dos episódios, em pequenas entrevistas/depoimentos.


Não pelo fato de exaltar os feitos dos Estados Unidos na guerra, mas por registrar alguns sentimentos individuais e coletivos que a batalhe gerou nesses homens, como quando a Easy Company se depara com Campo de Concentração, com medo da morte, pressão, solidão, etc.


terça-feira, 24 de maio de 2011

Novo Código Ambiental. Pseudo discussão?

O presente texto é uma resposta direta ao artigo do meu querido amigo Nildo Inácio, publicada no blog do também amigo Josué de Souza.

Com a proximidade da votação do projeto que atualiza o Código Ambiental Brasileiro, na Câmara dos Deputados, podemos acompanhar a manifestação de diversos setores sociais, que contrários ou favoráveis a matéria, expuseram um importante tema a ser tratado desde já: o desenvolvimento nacional sustentável.

Destaco de antemão o quanto é louvável, justo e fundamental a defesa ambiental e os princípios intrínsecos a essa bandeira. A questão é uma necessidade global, que reflete as conseqüências de um sistema econômico hegemônico, caracterizado por seu poder predatório.

Como nunca, ganha sentido o conceito que Weber cunhou de “desencantamento do mundo”. Sob o globalismo o mundo adquiriu novas formas de desenvolvimento. Tanto a ciência como a técnica, a eletrônica e a engenharia genética, o utilitarismo e pragmatismo, a razão instrumental e a visão sistêmica do mundo, originam-se de uma lógica que empregou nas instituições e corporações, consequentemente estados nacionais, estruturas mundiais de poder e formas de sociabilidade das mais diversas (IANNI, 2004).

Desse contexto emerge o novo palco da história, um contraditório processo de progresso e decadência, de prosperidade e miséria, pauperização absoluta e a pauperização relativa, de civilização e barbárie (PASSET, 2002).

Não podemos nos deixar cair na tentação de assumir uma postura ingênua, comum da intelectualidade oriunda do século 21: o pessimismo. Muito menos esbravejar aos quatro cantos que o Novo Código apóia-se na retórica ou em ações antidemocráticas.

Afronta a democracia é ser conivente com uma legislação de 1965 que sofreu absurdas alterações através de decretos, portarias, resoluções, instruções normativas e uma medida provisória que acabou virando lei sem nunca ter sido votada. Vazio é o argumento que desconsidera o fato de 90% dos 5,2 milhões de proprietários rurais do país, homens e mulheres de família, colocados à margem da lei, pressionadas e submetidas às ações de órgãos ambientais do Ministério Público. Brasileiros que foram arrastados ao encontro de processos, acusações e delitos que não sabiam ter praticados. Ingênuo e irresponsável com a nação é “acreditar que a solução dos problemas ambientais brasileiros esteja ligada unicamente a aumento ou diminuição de Áreas de Proteção Ambiental e reservas legais, ou a generalização do instituto de multas a torto e a direito” (JABOR, 2011).

Parece que expomos um debate onde os interesses são irreconciliáveis, encontrando de um lado ruralistas querendo a todo custo derrubar as amarras ambientais favorecendo suas pretensões mercadológicas. De outro lado os ambientalistas querendo preservar as reservas florestais, impedindo o desmatamento. Entre esses dois polos, Aldo Rebelo e o PCdoB, quer demonstrar a necessidade sairmos do debate superficial, esforçando em restabelecer marcos metodológicos mais sérios.

Devemos tomar como base a perspectiva dos pequenos produtores rurais e as suas agruras nesse conflito, equilibrar para que o Novo Código não permita o desmatamento desenfreado, tampouco imponha penalidades aos produtores, especialmente aos pequenos.

Convido a todos os leitores desse texto a lerem o artigo do Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, Elias Jabbour: Desmatamento e renda da terra, assim como o meu texto Resposta a "Insensatez Ambiental".

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tudo pode dar certo (Whatever Works, 2009) – Woody Allen

Confesso que durante muito tempo não dediquei atenção ao cinema. Até o presente momento essa arte era para mim um elemento de distração e relaxamento do que um componente reflexivo.

Por isso, hoje inauguro um pequeno espaço nesse blog para compartilhar as experiências cinematográficas.

Vou começar pelos últimos filmes que tive a oportunidade de assistir:

Tudo pode dar certo (Whatever Works, 2009) – Woody Allen  

Faz muito tempo que a figura de Woody Allen esbarra com a minha vida, porém nunca levei a sério. Sério mesmo eu levo a filha dele, mais isso é outro detalhe.

Assisti pela primeira vez a um filme do diretor, foi “Tudo pode dar certo”. Simples ao mesmo tempo complexo, repleto de tiradas inteligentes.

O fato é que gostei. E quem me conhece sabe que eu curti mesmo foi o personagem Boris!! Por que??? Alguém adivinha??? (ohaoahoahaoh)

Boris é um professor universitário aposentado (mecânica quântica?) que conhece uma menina interiorana de maneira inusitada. A menina Melody, ingênua, recém chegada à Nova York implora a Boris um lugar para passar a noite. Uma noite vira um mês, dois meses, e vai prolongando-se até os dois casarem.

De péssimo humor, Boris e Melody, nas suas diferenças se entendem. Ele fala, ela ouve e repete, mesmo sem saber muito bem o que esta dizendo.

Até que um dia, do nada, a mãe da garota aparece por lá. Igualmente sulista, bastante religiosa, desacostumada com a cidade grande, ela naturalmente desaprova o casamento.

Na busca por um partido melhor para sua filha, a mãe amplia seus horizontes sobre a cidade e a si mesma, o que acontece mais tarde com o pai de Melody que chega a NY para descobrir e entender o que é ser feliz.

Como alerta Boris em uma das cenas do filme: “este não é um filme feito para as pessoas de sentirem bem”. Mais com certeza você assiste com um sorrisinho no rosto quase o tempo todo.

Assista o trailer e o filme, vale apena!


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Resposta a “Insensatez Ambiental”

Publico minha resposta, destinada ao colunista do periódico, Folha de Blumenau, Bruno Cunha.

Resposta a “Insensatez Ambiental

Por
Eduardo Soares de Lara*

Amigo Bruno.

Acompanho e admiro consequentemente suas opiniões, vinculadas no jornal Folha de Blumenau, por acreditar ser louvável a dedicação de debater temas relevantes a sociedade. Porém em minha última leitura, fui surpreendido com sua opinião frente ao Novo Código Florestal.

Polêmico, o tema vem sendo criticado por setores da sociedade e veículos da impressa nacional, esse último, conhecido pelo pobre debate frente aos grandes problemas sociais.

É louvável, justo e fundamental a defesa ambiental e os princípios intrínsecos a essa bandeira. Uma necessidade global, que reflete as conseqüências de um sistema econômico hegemônico, caracterizado por seu poder predatório em diversos aspectos, o que me torna simpático a todos os que lutam por amplas e profundas mudanças sociais.

Dessas admirações, uma delas dedico ao deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do Novo Código Florestal, sendo impossível não enaltecer o grande trabalho realizado frente à elaboração do relatório. Como de costume o deputado Aldo, provido de espírito republicano e compromissado com os interesses estratégicos do povo e da nação brasileira, dedicou quase dois anos percorrendo o país em audiências, na tentativa de construir um consenso básico.

Nos próximos dias a Câmara dos Deputados deverá votar a atualização do Código Florestal, uma das matérias mais debatidas na história legislativa e que corresponde a uma necessidade inadiável de adequar a legislação atual, que põe na ilegalidade praticamente 100% dos pequenos e médios agricultores do País.

Para gerar clareza, utilizo algumas palavras do próprio deputado:

“A situação levou o governo adiar por decreto a aplicação de multas por exigência da averbação de reserva legal, ou seja, a parte da propriedade destinada à vegetação nativa. O decreto expira em junho, abrindo um vazio legal que só poderá ser preenchido de três maneiras: 1) a aplicação da lei e a conseqüente enxurrada de multas e processos contra milhões de agricultores, o que o governo não deseja e a população não toleraria; 2) a edição de outro decreto, adiando a entrado em vigor do que deveria estar em vigor; ou 3) o ajustamento da lei à realidade”.

Contextualizando poderemos entender que o Código de 1965 sofreu absurdas alterações. Foi no período democrático que decretos, portarias, resoluções, instruções normativas e uma medida provisória, que acabou virando lei sem nunca ter sido votada, transformaram o mesmo em uma legislação impraticável, onde o Estado foi o primeiro a desrespeitá-lo.

A conseqüência foi por na ilegalidade mais de 90% dos 5,2 milhões de proprietários rurais do país. Homens, mulheres e famílias, colocadas à margem da lei, pressionadas e submetidas às sanções de órgãos ambientais e do Ministério Público. Brasileiros que foram arrastados ao encontro de processos, acusações e delitos que não sabiam ter praticados. O relatório cita casos de suicídio, de abandono das propriedades por aqueles que não suportaram a situação em que foram condicionados.

Uma das medidas adotadas, na tentativa de proteger a natureza pela legislação brasileira, foi à determinação de área de Reserva Legal, que significa uma porção de terra de mata nativa, que deveria ser averbada, ou seja, registrada em cartório, preservada e seu uso não poderia mais ser alterado. Caso a área tenha sido devastada anteriormente, caberia ao proprietário reflorestá-la.

O prazo inicial para esse registro em cartório era o dia 22 de janeiro de 2009, que foi prorrogado por duas vezes e que vence dia 11 de junho de 2011. As terras não registradas poderão tornar-se irregulares, gerando multas e a perda de benefícios governamentais e incentivos fiscais, essenciais para dinâmica econômica do campo.

Sinceramente, não acredito que este é o grande interesse dos grandes latifúndios, do agronegócio e consequentemente da poderosa bancada ruralista. Estariam eles preocupados em perder 1% de suas gigantescas propriedades de terra? O grande afetado é o pequeno produtor brasileiro. Para Santa Catarina o tema torna-se relevante porque somos o estado onde menos incide o peso do latifúndio, por características históricas, econômicas e sociais singulares.

Em todo Mundo, quando nos colocamos a procurar informações sobre a legislação dos países, não encontramos nada parecido e avançado como o Código Ambiental e Código Florestal Brasileiro. Expressões como Área de Preservação Permanente e Reserva Legal, inexiste, em especial na Holanda, país que sedia o Greenpeace. A ONG “multinacional do ambientalismo” e não reivindica sequer uma metragem para proteção de rios e florestas de seu país sede. Esse debate é inexistente nos Parlamentos e na mídia dos países que para cá despacham suas ONGs e ações, muitas vezes duvidosas. É uma tentativa clara de imobilizar nossas riquezas em beneficio das nas nações desenvolvidas.

A questão central é se o Brasil pode dispor de seu território, seu solo, subsolo, recursos hídricos e sua inteligência, na elevação do padrão de vida, seja ele material ou espiritual de seu povo.

Cabe a todos a busca de elevação política da sociedade. A discussão qualificada sobre os grandes temas nacionais. Também nos cabe decidir se continuaremos a constituir um projeto civilizatório ambientalmente responsável, consciente de nossa legítima aspiração ao desenvolvimento.

* Eduardo Soares de Lara. Diretor Executivo do Instituto Contato, acadêmico do curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Conclusões...

Durante o final de semana, realizei uma retrospectiva da minha trajetória acadêmica. O motivo? Encontro-me em fase de concluir o curso. O sentimento? De tranqüilidade, sem arrependimento, em paz com o movimento estudantil que tanto mutilou e sacrificou a busca sistemática pelo conhecimento científico.

Falar sobre as ciências sociais significa falar de um amor. Foi através dela que obtive uma percepção desse nosso mundo, desse nosso tempo. É um amor por tudo o que é humano, seja feio ou belo.

O que têm marcado todos esses anos de graduação foi à superação de inúmeras dificuldades, a começar pela manipulação de um número considerável de material teórico dos mais eruditos e sofisticados. A dificuldade de acessar esses materiais, seja pelo custo dos livros, a barreira do idioma ou a capacidade de interpretar muitas vezes me fizeram sentir o medo de fracassar.

Ao enfrentar essas últimas etapas da graduação faço com a paixão do menino iniciante. Faço pensando nas gerações de jovens que devido às injustas estruturas sociais, permanecem com sonhos incompletos, às vezes sem sonhos. 

Espero ser um sociólogo engajado com as mesmas causas que condicionaram minha vida até o presente. São causas que não permitem ter um sono tranqüilo, estas me fazem sofrer em silêncio. A sociologia, equilibrada com a militância política, desde cedo foi o escape para poder aliviar essa dor. 

As ciências sociais a todo instante ampliaram essa dor, porém deram uma oportunidade de contribuir com o grande processo de transformação econômica e social por qual passa meu país. 

Minha vida será recompensadora e encontrarei um pouco de paz ministrando minhas aulas, sendo uma referência ética, como muito dos intelectuais e professores que deparei em minha vida. Homens de integridade dos quais admirei cada lição.

Durante os próximos meses estarei elaborando meu pré-projeto e o projeto propriamente dito. Serão muitas reflexões, citações, inspirações e agradecimentos. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

A atualidade da luta das mulheres

"Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos." Marie Curie – cientista polonesa foi à primeira mulher a ser laureada com o Prêmio Nobel de Física no ano de 1903.

Por
Simone Fraga e 
Eduardo Soares de Lara


Este ano a celebração dos 101 anos do dia das Mulheres, coincidiu com as festividades do carnaval em todo Brasil. O fato não diminuiu a importância e o significado da data, que continua registrando inúmeras homenagens ao longo do mês. Seja por diversas mesas redondas, grupos de trabalhos, projeção de filmes, exposições ou a criativa presença de mulheres lutadoras no carnaval, o importante é atingir com criatividade os distintos contextos de mulheres, estudantes, trabalhadoras, aposentadas, donas de casa, etc.

A data proposta pela lutadora feminista, a alemã Clara Zetkin, em uma época marcada pela marginalização, violência e prostituição da mulher, não impediu que muito desse passado opressor e medieval, permanecesse intrínseco. 

O longo percurso para que as mulheres obtivessem direitos que permitissem sua ativa inserção na vida econômica, política, social e cultural, continua carecendo de ampliação e garantias concretas por parte do Estado brasileiro. A grande luta encontra-se na transformação das recentes políticas públicas em políticas de Estado, além de uma nova percepção acerca do debate de gênero, que continua suscitado uma intensa disputa de idéias entre os campos progressistas e conservadores da sociedade.

Infelizmente, ainda encontramos a predominância de valores machistas nas relações entre homens e mulheres, presentes em contextos amplos da sociedade ou nos espaços mais delineados.

Verificamos constantemente que os índices de violência contra as mulheres encontram-se elevados, somado ao fato da crescente relutância de juízes e delegados de polícia em aplicar a Lei Maria da Penha, emergindo uma explicita tentativa de manter viva a desigualdade entre homens e mulheres.

Muito além das violências descritas em lei, uma série de outras formas de “violências simbólicas” perpetua nos padrões de comportamento. Essas, por si só, geram os visíveis desequilíbrios, que desembocam na supervalorização do ponto de vista masculino, estrutura que consolida uma sociedade machista e sexista.

Recentes investigações do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) destacam que do ponto de vista econômico, “a pobreza no Brasil tem sexo”. Existe uma predominância das mulheres nos estratos mais pobres da sociedade brasileira, sendo que mais da metade das famílias com filhos chefiadas por mulheres (53%) são pobres, ao passo apenas 23,7% das famílias com filhos chefiadas por homens estão nessa condição. A razão da pobreza feminina encontra-se na divisão do trabalho, onde estas foram historicamente incumbidas das tarefas domiciliares, reservando ao mercado de trabalho os postos de baixa remuneração.

O rendimento médio das mulheres esta constituído na média de R$ 786, sendo este valor 67,1% do rendimento médios dos homens diagnosticado em R$1.105, mesmo as mulheres mantendo um nível de escolaridade superior a dos homens. 

É fato que os últimos 20 anos houve significativa diminuição do abismo entre os rendimentos médios entre homens e mulheres. No ano de 1992, o rendimento médio das mulheres era menos de 60% e em 2001 apresentou elevação para 65%, o que apesar da evolução é possível ainda notar, que na maioria das atividades econômicas, as mulheres ganham menos do que os homens.    

A questão essencial é que o Brasil vive um momento conjuntural instigante. Pela primeira vez uma mulher foi eleita ao principal posto de comando político. Fato que recupera a longa história de lutas pela igualdade de direitos. Também o Brasil vive um próspero desenvolvimento social e econômico, resultante dos últimos dez anos, alcançando o posto de 7ª economia do mundo. 

Esse novo Brasil não nos exime da necessidade de continuarmos mobilizados e atuando. Em um esforço de garantir junto ao novo governo os compromissos assumidos com as mulheres e o povo brasileiro.

Em especial as mulheres, que sempre estiveram presentes nas grandes batalhas populares, em todos os tempos e lugares. As que ousaram a todo instante sonhar e construir um mundo diferente, verdadeiramente justo e igualitário. O presente continua requisitando para que todas sejam protagonistas do esforço de construir um projeto de nação justo, caracterizado por amplas oportunidades para toda a população.

*Simone Fraga. Diretora Executiva do Instituto Contato. Formada em Administração, com ênfase em gestão estratégica das organizações e gestão financeira pelas Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
*Eduardo Soares de Lara. Diretor Executivo do Instituto Contato e graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Artigo publicado originalmente no sítio do Instituto Contato - http://www.institutocontato.org.br