terça-feira, 23 de setembro de 2014

Anarquistas graças a Deus...

Um dos escritores fundamentais em minha formação, sem dúvida é Jorge Amado. Pouco depois de seu falecimento, a figura de sua companheira Zélia Gattai, também escritora, despertou minha curiosidade.
Zélia foi a ocupante da cadeira nº. 23, na sucessão de Amado, e nesse momento descobri a vasta obra da escritora. Um título de imediato destacou-se, era Anarquistas Graças a Deus.
Narrativa agradável, impecável nos detalhes e possuidora de uma rica memória muito além da vida da família Gattai, estende-se para os imigrantes italianos, espanhóis, portugueses e árabes do início do século XX. Recupera a história de uma São Paulo e de um povo que ainda caminhava tranquilamente nas ruas. Cidade que já apresentava os contrastes sociais perversos da sociedade brasileira, e que agitava o sangue quente dos italianos anarquistas. O leitor facilmente descobre tratar-se de um memorialista de mão cheia.
Ao fim do livro, da mesma forma que Jorge Amado descreveu: "A vida explode e se afirma em cada página (...) ele me deu infância e adolescência, a família e os amigos, as lágrimas e o riso, a têmpera daquela menina (...)".
Foi intenso viver as histórias da família de seu Ernesto Gattai e seus companheiros. Termino o livro com o sentimento de que também morei na Alameda Santos, nº. 8, no bairro da Consolação, em São Paulo.