quinta-feira, 2 de junho de 2011

Palocci. Ele é a verdadeira crise?

Ontem fui pego de surpresa, nos corredores da Universidade, onde um grupo de colegas debatia questões relacionadas à influência da grande mídia e as recentes acusações que envolvem o Ministro Chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Longe de querer defender o Ministro Palocci, seu passado e presente, assim como querer justificar alguma ação imoral. Tenho a necessidade de refletir alguns aspectos.

Divulgado pela Folha de S. Paulo, as notícias acusam o ministro de ter seu patrimônio acrescido 20 vezes em quatro anos. Mesmo não fazendo nenhuma acusação direta, a mesma é cheia de insinuações. Seguindo o melhor estilo golpista da imprensa brasileira, outros meios de comunicação somaram-se ao coro, como se todas as reportagens tivessem sido preparadas pelo mesmo editor.

Terça-feira, 17 de maio
Folha: “Comissão de Ética diz que Palocci não relatou bens”
Estadão: “Dilma blinda Palocci e oposição reage com cautela”
Quarta-feira, 18 de maio
Folha: “Ex-ministro vale muito no mercado, diz Palocci”
Estadão: “Cinco ministros de Dilma têm empresas de consultoria”
Quinta-feira, 19 de maio
Folha: “Ação do Planalto barra convocação de Palocci”
Estadão: “Negócio feito por empresa de Palocci é suspeito, diz Coaf”
Sexta-feira, 20 de maio
Folha: “Empresa de Palocci faturou R$ 20 mi no ano da eleição”
Estadão: “Palocci trabalhou para 20 empresas”

Jornais e oposição ao governo aproveitaram-se do caso para criar todo tipo de instabilidade e constrangimento à presidenta Dilma. Criou-se o estopim para que lideranças da oposição passassem a pôr Palocci no “olho do furação”, começando assim mais uma guerra política.

DEM e PPS ingressaram com pedidos de abertura de inquérito na Procuradoria-Geral da República, questionando o faturamento da empresa em seu período de funcionamento, assim como a lista de seus clientes.

Parlamentares do PSDB mobilizaram forças para recolher assinaturas para uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).

Em diferentes comissões das duas casas do Congresso Nacional, oposicionistas buscaram convocar o Ministro para prestar informações sobre a atuação da consultoria da qual é sócio.

*

Segue trecho de uma reflexão publicada pelo professor Emir Sader, em seu blog:

“As acusações a Palocci coincidiram com essa votação e contribuíram para configurar uma situação de crise política para o governo. Ao deter o cargo mais importante no ministério, centralizando a coordenação política e outras funções anexas, as acusações - no mínimo – afetam duramente a capacidade de coordenação do governo e colocam à prova sua forma de reagir a denúncias – mais além dos objetivos desestabilizadores da mídia opositora – que revelam, pelo menos, comportamentos problemáticos por parte de um ministro importante no governo. Ainda que não se prove ilegalidades, restam sempre questionamentos sobre a ética publica de assessorias enquanto se detêm mandato parlamentar, cargo importante em comissão da Câmara e a eventualidade de informações privilegiadas e influências em setores do governo. A não revelação dos clientes, com a alegação de segredos profissionais, agrava a situação, que no seu conjunto paralisa a capacidade de ação politica do governo, justamente quando ele acumula temas graves na sua agenda – Código Florestal, emissão de MPs, entre outros. Porém, mais grave do que tudo isso, reflete que atitude o governo toma diante de situações que envolvem ética pública e podem definir critérios para todo o mandato.

“A falta de consciência dos problemas acumulados e dos elementos de fraqueza do governo, que permitiram sua irrupção, ou a falta de consciência, com visões redutivas, que não atingem o cerne das questões, é o pior conselheiro. Qualquer atitude que represente esconder a cabeça na areia, como o camelo, é permitir que as dificuldades atuais se perpetuem e os recuos que o governo está dando, permaneçam no tempo, configurando uma correlação de forças desfavorável para governo e o campo popular.”

"O governo Dilma não sairá o mesmo da crise. Ou sairá mais fraco ou mais fortalecido. Como ocorreu em 2005, que foi o marco decisivo no governo Lula. A atitude que o governo tomar diante da crise atual – seja no Código, seja em relação a Palocci – vai definir um estilo de governo, uma forma de encarar os interesses públicos e a forma de enfrentar problemas da ordem da ética pública, que o marcará por todo o mandato.”

“Nunca como agora crise significa oportunidade. Será perdida ou ganha: está nas mãos do governo a decisão.

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Na mesma semana que os fatos relacionados a Palocci continuam repercutindo, denúncias envolvendo o “líder máximo da oposição ao governo Dilma”, senador do PSDB Aécio Neves, aquele que foi pego “borracho” andando de carro por ai. Aécio é acusado por deputados estaduais de Minas Gerais de esconder bens para não pagar Imposto de Renda. Salário de R$ 10 mil e patrimônio declarado de R$ 600 mil não explicam viagens ao exterior, festas com celebridades, jantares em restaurantes caros e uso de carrões.

A grande questão: é preciso deixar claro o que pode ou não ser feito pelo homem público. Essa é a verdadeira crise. O Brasil, com o governo Lula, deixou de ser um país das oportunidades. Precisamos mobilizar as forças conseqüentes da sociedade para disputar a construção de um Estado eficiente ao mesmo tempo culturalmente mais ético com as grandes questões públicas.