sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sobre os professores e a escola.

Começo dedicando atenção a um fato ocorrido hoje, durante minha visita a uma escola da cidade, onde nos próximos dias, em conjunto com outros alunos da universidade, farei uma pequena coleta de dados, referente à construção e aplicação do Plano Político Pedagógico da Escola.

A escola, aparentemente boa de estrutura física, instantaneamente fez-me recordar dos anos escolares que vivi em Blumenau. Confesso que escutei o já esquecido toque da sirene, destinada a sinalizar a troca entre as aulas, com certa vontade de reviver esse passado que fica distante a cada dia. Foi entusiasmaste reviver o ambiente escolar.

Fomos recebidos por uma das diretoras. Simpática, dispondo de energia, apesar do avançar da noite, nos ponderou sobre os desafios recentes da escola e do corpo docente.

Ao ganhar confiança de nosso grupo, não conteve a necessidade de desabafar sobre a difícil condição que os mesmos vivem. Doentes.

Essa seria a melhor descrição. Doentes.

Recordo do convívio que tive com alguns professores de Blumenau, durante minha militância no movimento estudantil. Desgastados, cansados, desestimulados, e imobilizados no agir. Tanto no agir das idéias como no agir de uma prática ousada.

Já não é tão atual a idéia da escola ter sido reduzida a um mero depósito de jovens. Que a mesma perdeu toda e qualquer chance dos mesmos serem estimulados a viverem, guiados pelo conhecimento da ciência, da reflexão filosófica, inseridos na tentativa da construção de um novo mundo. Que seria justo, igual e fraterno, recordando a mensagem dos nossos iguais franceses.

Como falar de justiça, igualdade e fraternidade nessa sociedade? Como abrir o coração dessa juventude para a luta, para as utopias? O que fazer com essa geração de professores, afogados no pessimismo?

Ambos enfrentam no seu cotidiano a realidade perversa da violência. Ataques diários de violência em casa, com estupros, relações incestuosas, a utilização de drogas, entre tantas outras descritas pela diretora, de olhar distante, que queria manter um sorriso de simpatia por estar em nossa frente, mas que transmitia um nojo. Era certamente a repulsa desse mundo cruel.

Ontem olhando o vai e vêm dos carros em meu apartamento, pensei muito sobre o ocorrido na escola. Pensei muito sobre a professora, cuja história era um subliminar pedido de ajuda. Quis poder refletir sobre a questão e fiquei imobilizado.

Meus livros encaravam minha alma inutilmente. A dúvida, o inconformismo, a neutralidade, indiferença, quiseram todas juntas vencer essa guerra que é só minha. Diz respeito aos meus sonhos, ao que eu penso desde quando fiz minha primeira leitura do Manifesto do Partido Comunista, aos dezesseis anos.

Nas vésperas de completar vinte e quatro, reabrir o livro, recordando das várias vezes que realizei a mesma leitura. 

“A história de todas as sociedades que existiram até aos nossos dias é a história da luta de classes.
Homens livres e escravos, patrícios e plebeus, senhores e servos, mestres e oficiais, numa palavra: opressores e oprimidos, em oposição constante, travaram uma guerra ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acaba sempre pela transformação revolucionária de toda a sociedade, ou pela destruição das duas classes beligerantes.

Nas primeiras épocas históricas, constatamos, quase por toda a parte, uma organização completa da sociedade em classes distintas, uma escala gradual de condições sociais: na Roma antiga, encontramos patrícios, cavaleiros plebeus e escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, oficiais e servos, e, além disso, em quase todas estas classes encontramos graduações especiais.

A sociedade burguesa moderna, que saiu das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Apenas substituiu as velhas classes, as velhas condições de opressão, as velhas formas de luta por outras novas.” (Karl Marx -  Manifesto do Partido Comunista)

Sinto-me parte de um todo, de um grupo de homens e mulheres que sonham, agem, sentem, choram e lutam. Não me abandonam, estamos por todos os cantos, em inesperados cantos do mundo.

Não é possível abandonar a consciência já adquirida. Necessitamos de maior comprometimento, tanto no sentido de refletir como de agir.

Aos novos professores, categoria que me encontro, estaremos juntos, lado a lado nessa difícil, mas apaixonante tarefa de lutar pela humanidade.

Precisamos de esforços na tentativa constante de interpretar a moderna sociedade moderna que vivemos. Compreender as transformações de classes, que substituíram as velhas condições de opressão, para novas formas.

Necessitamos definir o nosso lado. Eu já optei por um. Não rediscuto essa opção, apenas as condições de como realizaremos essas transformações.

“É fraqueza não encarar de frente o severo destino do tempo em que se vive”. (Max Weber) 

Um comentário:

  1. Então te prepara, futuro profe e colega de lida, porque a batalha está cada dia mais sangrenta.

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