domingo, 3 de julho de 2011

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos, 2009)

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos, 2009)

Indicado ao o Oscar de melhor produção estrangeira, o filme conta a história de um ex-funcionário público que resolver escrever um livro quando se aposenta. Benjamín Espósito (Ricardo Darín) escolhe pra seu livro o caso criminal que mais marcou a sua carreira no Tribunal Penas de Buenos Aires.

Para ordenar as idéias, ele revê o homicídio que investigou em 1974 e termina repensando as decisões feitas no passado. Nessa busca vai tentar descobrir se consegue encerrar esse caso e alguns capítulos da sua vida.

Espósito terá sempre ao lado a tentação da sua impecável superior Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil, atriz revelação do filme) e a companhia do fiel escudeiro Pablo Sandoval (Guillermo Francella, que garante uma participação dramática de peso, algo fora do comum na sua carreira de comediante). Os acontecimentos, assim como os outros personagens que povoarão a história, são apresentados aos poucos, como se saíssem de um conta-gotas controlado com extrema precisão pelo diretor Juan José Campanella.

Apesar de poder ser enquadrado como filme policial, afinal o elemento central à trama é um crime, há poucos tiros e nenhuma explosão. A tradicional adrenalina das perseguições de carro que se acostumou em ver nos filmes hollywoodianos é muito bem substituída por uma bela seqüência de imagens aéreas de um estádio de futebol lotado em pleno fervor do jogo. Ou seja, tudo redimensionado a escalas mais humanas e realistas.
As idas, vindas e voltas de cortes temporais fazem os paralelos com o passado dos envolvidos e também com a história argentina. Os meandros da justiça e a época da última ditadura no país são tratados de forma econômica e sem demagogia. Mas, por outro lado, às vezes, fica difícil de entender tanta "argentinidade". São várias as referências feitas a ruas, lugares, personalidades e contexto histórico. Um dado importante para acompanhar melhor alguns desenlaces do filme: o crime se passa na época do governo de Isabel Perón e das ações constantes da "Triple A" (Aliança Anticomunista Argentina), grupo de repressão do Estado que recrutou gente da pior espécie, entre oficiais de polícia exonerados por delitos, civis com fichas criminais e matadores de aluguel.
Baseada no livro La pregunta de sus ojos (A pergunta dos seus olhos), de Eduardo Sacheri, a produção argentina e espanhola é um desses poucos casos em que uma obra é superada pela adaptação. Apesar de não ser desconhecido dos leitores argentinos, o romance de Sacheri (que trabalhou com Campanella no roteiro, acompanhou as filmagens e palpitou em certos momentos) com certeza nunca chegou a 18 semanas consecutivas no topo de nenhum ranking, como fez o filme nas bilheterias argentinas. Na sua sexta semana de exibição, O Segredo dos Seus Olhos já era o filme nacional de maior arrecadação na Argentina e hoje é considerado o mais visto dos últimos 35 anos no país.

O orçamento curto (2 milhões de euros) foi bem distribuído entre as sete semanas de filmagens, os atores de primeira e os cenários simples, mas impactantes - como o edifício central dos tribunais e as cafeterias da capital argentina, que não precisam de retoques, além do já mencionado estádio de futebol do time Huracán. A bela fotografia também merece destaque e o enquadramento só peca pela repetição muito constante dos desfoques de primeiro plano. Parece que a verba só não deu conta de um quesito: a maquiagem. Ao longo dos 25 anos que se passam na história, as marcas do tempo ficam meio forçadas.
O desenrolar dos acontecimentos cria um suspense envolvente e o desdobramento dos personagens contribui com boas surpresas, compondo alguns dos segredos que hipnotiza os olhos de quem vê. Em suma, a indicação ao Oscar é merecida. Agora resta saber como acaba a tal história contada por Darín.






AMOR E ÓDIO (La Rafle)

O final de semestre é sempre um momento delicado, que exige uma dedicação sobrenatural na tentativa de entregar nos prazos estabelecidos, alguns trabalhos e avaliações.

Mesmo assim encontrei um pouco de tempo para o cinema. Segue minhas considerações para com três títulos.

AMOR E ÓDIO (La Rafle)

Com o ator Jean Reno, o filme fala sobre o período de ocupação da França por Hitler, e consequentemente sobre a perseguição de judeus em Paris. Os atores são ofuscados por uma série de crianças que protagonizam “pequeninos judeus”, passando por uma das experiências mais deploráveis que a humanidade já conseguiu produzir, a perseguição nazista.

Ambientando no ano de 1942, Joseph com apenas 11 anos, durante uma manhã de junho, deve ir para a escola com uma estrela amarela presa em seu peito. Entre a bondade e o desprezo, a comunidade judaica vivem numa Paris ocupada.

Na manhã de 16 de Julho de 1942, 13.000 Judeus são presos e espremidos dentro do Velódromo D´Hiver em condições desumanas, até serem deslocados para o campo de concentração de Beaune-la-Rolande, localizado na cidade francesa ao sul de Paris, Vichy.

O fato de ser um filme, não impossibilita o fato de que cada personagem desse filme de fato existiu. Foram mulheres, homens e crianças que lutaram por sua liberdade. O filme é aterrorizador, quando ao final nos damos conta que tudo isso aconteceu, existiu e foi encarado com naturalidade por muitos.

Vale apena ver e ter como registro de um dos momentos mais perversos que a humanidade conseguiu criar. Ou melhor... Continua recriando, em outras proporções, porém continua.